Minha historia

 

Minha historia

 

Eu acho linda a minha história, perfeita para quem eu sou aqui dentro. Quando eu tinha um ano de idade, minha mãe criou uma escola na sala de nossa casa e foi ali que cresci. O contexto era muito familiar e todos os presentes participavam ativamente na educação das crianças. Foi assim que, com onze anos de idade, eu tive minha primeira turma, composta por cinco crianças com dois anos de idade.

Sempre vivi rodeada de crianças; tenho uma irmã gêmea e brinco que, desde o início da minha existência, não sei como é viver sem uma criança ao lado. Hoje fica claro para mim que, nos primeiros anos de minha vida, eu já tinha um olhar muito observador com relação à infância e, desde então, a educação formal não fez sentido para mim. Me acompanha desde cedo um impulso de transformar a educação, minha universidade foi dentro de casa e por isso digo que eu definitivamente nasci no lugar certo.

Aos quinze anos de idade, deixei a escola para cuidar do meu irmão. Nesse período, quatro horas do meu dia eram voltadas unicamente a ficar com o bebê e comecei a perceber como o meu estado interno interferia na sua respiração e no seu sono. Percebi que, para além das pedagogias e formas de educar, há uma influência muito grande nas crianças de acordo com o que manifestamos dentro de nós. Com dezenove anos, tive o meu primeiro filho e vim morar no Brasil. Quando Luan nasceu, percebi a responsabilidade de ser eu quem determina o futuro de um ser, sua evolução e desenvolvimento – isso foi assustador.

Até aquele momento, eu reconhecera as formas de educar que não faziam sentido para mim, mas desconhecia algum tipo de educação que fizesse sentido e pudesse, quem sabe, sugerir um caminho a ser trilhado. Em busca desse norte, saí para viajar. Conheci diferentes países e diversas escolas na intenção de encontrar a melhor forma de educar meu filho. Passaram-se oito anos e Luan se tornara um menino agressivo e desrespeitoso, que não tinha limites. Tiana, minha segunda filha, estava crescendo, e dificuldades semelhantes surgiam em nossa relação. Paralelamente, minha busca se intensificava, no desejo obstinado de compreender onde é que eu estava errando.

Lembro até hoje do momento do meu despertar: eu estava deitada na rede quando percebi que tudo aquilo que eu criticava no meu filho dizia respeito a mim. As atitudes que eu reprovava, seus comportamentos que eu desejava, num eterno esperar, que ele mudasse: aquelas características eram minhas. Nesse dia, eu assumi verdadeiramente a responsabilidade sobre o desequilíbrio que Luan estava manifestando e fiz a única coisa que estava ao meu alcance: comecei a mudar. Foi o dia que despertou o educador interno dentro de mim.

Por mais incrível que pareça, uma semana foi o suficiente para que Luan mudasse e a nossa relação se transformasse. Nesse pequeno intervalo de tempo, ele parou de ser tão agressivo e desrespeitoso, e eu percebi que pouco a pouco voltava a ser o menino centrado que era quando nasceu. Essa era a sua essência, afinal, e o comportamento que eu tanto criticava era apenas expressão de um desequilíbrio meu, cuja mudança estava na minha mão. O fato é que eu vivia uma vida supostamente perfeita, mas estava vazia de mim. Tomei então a responsabilidade de me educar e entrar em contato com a minha essência, e foi só aí que minha relação com os meus filhos pôde tornar-se harmoniosa. Não é a criança quem  tem de mudar, como insistimos em acreditar, quem tem de mudar somos nós e para isso é preciso disponibilidade, consciência e humildade.

A partir dessa virada interna, me reuni com outras pessoas para finalmente materializar o desejo de criar uma escola. A primeira escola de Educação Viva e Consciente, Escola Inkiri.

Foi lá que me permiti descobrir, através da observação, as necessidades reais das crianças, e entendi que, para além de qualquer pedagogia, há uma forma natural de nos relacionarmos com elas: essa forma está dada mas, para percebê-la, é preciso dar um passo para trás.

Com o tempo, mais e mais pessoas se inspiraram nesta forma de educar e assim nasceu a Rede de Educação Viva e Consciente, composta por mais de vinte escolas espalhadas pelo Brasil, Uruguai, Argentina e Portugal.

Hoje, mãe de três filhos e madrinha de diversas escolas, dedico minha vida, meu tempo e meus sonhos a ajudar os pais e educadores a fazerem a transição que fiz, a encontrarem a cura da relação com as crianças que começa, em verdade, na relação consigo mesmo.

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